MEIA MÃE, MEIO PAI!
12:19:00
“Mãe, o papai vai me assistir
hoje? ”, pergunta a garotinha, enquanto sua mãe arruma seu cabelo. “Olha Sofia,
ele disse que iria, então...”, responde a mãe totalmente desconfortável. “Seria
tão bom se ele fosse, né mãe. Depois poderíamos tomar um sorvete”. Laura, a
mãe, só observa.
Depois de prontas, Laura e Sofia
entram no carro e seguem rumo ao teatro para a apresentação das “Pequenas
aventuras de Cisne Negro”. Com uma hora de antecedência, descem do carro e a
professora de Sofia, logo vai em sua direção. “Sofia, vamos nos aquecer? ”,
pergunta a professora e Sofia responde, “Meu pai vem hoje me ver, sabia?”.
Laura olha para a professora e abaixa a cabeça.
A peça se inicia e pela coxia
Sofia tenta ver onde seus pais estão sentados. Só avista sua mãe, na primeira
fileira com o celular na mão chorando. A professora convoca todas as meninas
para se reunirem e rezarem antes da apresentação de ballet.
Tudo transcorre como o ensaiado.
No final as meninas se reúnem no camarim e começam a gritar incessantemente. “É
a forma delas expressarem que tudo deu certo”, explica a professora as outras
mães que entram no camarim sem entender muito bem o que estava havendo. Sofia
era a única que estava sentada numa cadeira sem comemorar. Quando Sofia avista
a mãe, corre e pula no seu colo: “Mãe, cadê o papai? E porque você estava
chorando antes da apresentação? ”, pergunta Sofia. “Então filha, eu...”,
“Paaaaaiiiiii”, diz Sofia ao
avistar o pai na porta do camarim. A mãe estranha a presença dele, já que ele
havia mandado uma mensagem dizendo que não poderia ir porque tinha um
compromisso. “Viu mãe? Eu sabia que o papai viria”. “Pois é querida. Eu também
sabia que ele jamais te deixaria na mão, hoje, não é mesmo João Carlos? ”.
“Vamos deixar Sofia trocar de
roupa junto com as outras meninas. Enquanto isso João, posso trocar uma
palavrinha com você? ”. Os dois saem do camarim e vão para a porta do teatro.
“Olha João, não sou eu que vou falar para a nossa filha quem você é. Ela vai
descobrir com o tempo. Eu sei que você não se importa, mas mentir, já é demais.
Mentir e depois aparecer do nada. Eu não sei mais consolar Sofia. ”. E João
responde: “Ai Laura, para de fazer drama. Meu compromisso não deu certo e estou
aqui. Não é isso que importa? Pronto, o pai dela está aqui”. “O que importa não
é estar presente. É ser presente, você sabe a diferença? ”. “ Tanto faz”,
rebate.
Sofia logo aparece. “ Vocês estão
brigando? ”. “Não filinha, não estamos. Agora me dá um abraço porque o papai
tem que ir embora”. “Mas já pai? Você mal chegou. Hoje é dia dos pais, quero
comemorar com você. Vamos tomar um sorvete agora, porfavorzinho!”.
Antes de João responder Laura
pega Sofia no colo e a leva para o carro. “Vamos embora Sofia, hoje é Dia do
Pais. Mas pai é quem cria e é presente. Então hoje, amanhã e depois de amanhã
eu sou sua mãe, mas também seu pai. Agora nós vamos tomar o melhor sorvete da sua vida. Mas para isso você tem que parar chorar, combinado?”.
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