CABELO DE PRETO

12:18:00

Quando eu era pequena, meus cabelos eram livres. Todos o elogiavam e adoravam meus cachinhos. De vez em quando saiam comentários de que ele estava armado, muito grande, desordenado e que deveria pentear ele (não se penteia cabelo enrolado). Mas, ok.

Fui crescendo e aos 12 anos minha mãe me matriculou em uma escola em que certos valores me foram apresentados. Dentre eles, o que mais me impactou foi a “Ditadura do Cabelo Liso”. Aqueles que possuíam o cabelo grande e liso, eram bonitos e quem tinha cabelos crespos, enrolados, os famosos “cabelos de preto”, eram feios. Essa era a regra.

Na tentativa de me enquadrar e sofrer menos bullyng, o meu cabelo passou pela primeira transformação, na busca por aceitação. Por anos, nesta escola, vivia com o meu cabelo preso. Mas não preso com rabo de cavalo. Eu fazia um coque, para esconder todos os meus cachos. Não podia existir vestígio do que me foi herdado geneticamente.

Até que a nova invenção dos salões era o relaxamento. Prometia cabelos menos volumosos e controlados. Juntei uma graninha e fiz. Meus cachos ficaram horríveis. Não haviam mais cachos. Em um mesmo fio haviam partes lisas e outras enroladas, enfim, ficou péssimo. Logo a gominha de amarrar o cabelo voltou à tona.

Passado o Ensino Fundamental, aos 15 anos no colegial virei adepta da escova no cabelo. Pagava semanalmente, um dinheiro contado, para realiza-las. Ao alcançar a idade adulta, comecei com os alisamentos. Com o tempo comecei a pagar cada vez mais pelo tratamento. No final do ano de 2015 meu cabelo começou a quebrar, de tanto que eu joguei química no coitado.

Agora, em 2016, quando a cultura feminista se manifesta e diz: ” ei mulher, você é linda, seu cabelo é lindo. Se empodere!”, meus olhos brilham, porque queria eu ter escutado isso de meus familiares e amigos. Queria eu ter cuidado e zelado pelo meu cabelo. Queria eu ter uma força interna de adulto, quando criança. Queria eu acreditar que o meu cabelo enrolado, crespo, seja como quiser chamar, é lindo.

Assim acabei me tornando produto de uma sociedade, que a algum tempo, não sabia respeitar e nem propagar mensagens lindas e tolerantes quando ao próximo.

Em fevereiro deste ano eu realizei a última intervenção em meu cabelo. E depois de muita pesquisa e incentivo de inúmeras mulheres, estou em “transição capilar”. Período no qual não efetuo mais químicas e espero que todos produtos aplicados em meu cabelo saiam gradualmente.

Se você quiser saber mais sobre o que é a Transição Capilar, abaixo segue o link de uma matéria do site Cacheia, dedicado as cacheadas, que eu sou fã:


Ano que vem estarei eu, empoderada, com meus cachos. E ai da cabeleireira que vier com propostas de alisamento para o meu lado.


Reuni 3 fotinhas de quando eu era pequena, onde os meus cachinhos ainda existiam para me incentivar:

O bandô era muito presente em minha infância, tanto para controlar o leãozinho quanto para eu brincar sem me preocupar. 
Em minha formatura da 4º serie já tacaram escova no meu cabelo.

Nesta foto eu estou lindinha demais. Olhem esses cachos!




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