O ÓDIO
18:59:00
Quando a
visão se torna turva, as cartomantes ficam confusas. As linhas das mãos não são
lidas com clareza. Deus só observa, a confusão em que você se meteu. O tempo se
fecha. Falsas esperanças cheias de boas intenções se fazem presente.
Na
perdição livre os passos anunciam confiança. O mundo conspira ao favor de te
ver enganado. Um, dois, três passos já o cansam. Atualizações e conversas
diárias já não lhe interessam. A poltrona não é mais confortável, a família não
lhe agrada, a sociedade é muito hipócrita. Será castigo?
Reclamação é sua nova doutrina. O pássaro que suja, o cachorro que late,
a política que enoja, os bandidos que estão soltos, a mídia tendenciosa, a
namorada que irrita, o patrão que o não entende, o emprego mal remunerado, a
vida que é uma merda.
Dá-lhe textão porque suas verdades precisam ser ditas. Quem discorda de
ti é alvo de ódio eterno. Quem concorda está te paparicando e você odeia
pessoas assim.
Assim, a segunda doutrina adotada, é a do ódio e da intolerância. Brigas
com todos a sua volta se torna normal como beber água; acontece todos os dias.
Alterar a voz lhe traz poder. Esbravejar também. Dedo na cara vira prazer. E
quem não gosta que se retire.
O sincericídio é adotado. As
ameaças se tornam forma de controle, do pouco que lhe resta. O patrimônio
adquirido torna lhe um segregador, mesmo tendo tido a infância pobre, comendo arroz
com banana e roubando o pé de chuchu do vizinho. A vaidade se sobressai.
Deus é o único que lhe entende.
Todo dia na missa. Ora. Pede sem agradecer. Reza sem ler. No abraço da paz, se senta e olha fixamente para o chão.
No buraco em que habita, só sobra
a luz do céu. E a certeza que um dia vem após o outro. Seus livros e discos
foram levados. Sua família se retirou. Seus amigos o ignoram e o emprego já
era.
A convicção de que todos estão
errados se esvai. O ódio passa, a raiva cessa, a calma
estaciona. As lembranças surgem, a realidade aparece. O pedido de perdão é a única
solução. Preparado está. No dia da tentativa de absolvição eis que morre de
tragédia.
Enterrado em uma vala comum, sem
flores nem lagrimas, se foi cedo para a remissão de seus pecados.
0 comentários