O BARCO

11:18:00


Ao adentrar achou pura leveza. Delicadeza. Achou belo e ali quis se alojar. A princípio, não deu muita atenção ao casco com um buraco imenso, além dos inúmeros arranhões, cortes e cicatrizes. Não entendeu os maus bocados. Não entendeu a dor.

Mas teve desejos. Ansioso e impaciente, encontrou o caso perdido. O barco furado. Onde nada se encaixa. A tripulação já tomou seu rumo. Não há mapas para o mar, nem guia. Desenfreado, aquele barco tenta apenas encontrar repouso em uma ilha ou em uma pedra qualquer. Almeja apenas a brisa suave de uma tarde. Pois caso venha a tempestade, o fundo desse imenso oceano o aguarda, de braços abertos.

Pisa com calma, e se assusta com o tamanho buraco. Quis partir. Hesitou. Ficou.  Não queria mais depredar o casco já fraturado. Achou suficiente a delicadeza, a atenção, o cuidado. Se doou e sem respostas, insistiu. Não abandona. Deposita as esperanças do melhor para ambos. Amor não falta. 

Mas, infelizmente, continua a não entender o buraco que persiste no casco, mesmo depois de todos os reparos. E, infelizmente, talvez seja melhor assim.

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